Aconteceu numa manhã de Verão. Sem dinheiro, dois jesuítas arrancavam de Évora para uma peregrinação de inteira pobreza que os levaria até Fátima. Nos bolsos não levavam outra coisa senão o desejo de experimentarem o total abandono em Deus.Aproximaram-se do austero mosteiro da Cartuxa e pediram comida. Junto à porta estava um monge contemplativo de olhar penetrante que ao ouvir tal pedido, respondeu com notável simplicidade. Uma sacola de pano com uma caixa de marmelada e alguma fruta.Os jesuítas atraídos por tamanha generosidade interrogavam-no com afecto. No entanto, o tempo pediu-lhes que caminhassem e despediram-se com saudade.Passadas algumas horas, a fome obrigou-os a parar. Vasculharam a sacola e tiraram o que havia para comer. Caixa de marmelada e alguma fruta.Naquele preciso momento, o coração caiu-lhes aos pés. Perceberam que para além disto, estava uma coisa escondida. É verdade, o monge cartuxo muito discretamente escondera na sacola algum dinheiro, caso viessem a sentir dificuldades.A história deste monge de clausura que insiste em ver as necessidades dos outros. A ver sem ser visto. A gratuidade de uma presença discreta, mas não apagada.A clausura não nos fecha, mas abre-nos com maior generosidade a quem dela se aproxima.
Nuno Branco