05 julho 2006

Ver sem ser visto!

Aconteceu numa manhã de Verão. Sem dinheiro, dois jesuítas arrancavam de Évora para uma peregrinação de inteira pobreza que os levaria até Fátima. Nos bolsos não levavam outra coisa senão o desejo de experimentarem o total abandono em Deus.Aproximaram-se do austero mosteiro da Cartuxa e pediram comida. Junto à porta estava um monge contemplativo de olhar penetrante que ao ouvir tal pedido, respondeu com notável simplicidade. Uma sacola de pano com uma caixa de marmelada e alguma fruta.Os jesuítas atraídos por tamanha generosidade interrogavam-no com afecto. No entanto, o tempo pediu-lhes que caminhassem e despediram-se com saudade.Passadas algumas horas, a fome obrigou-os a parar. Vasculharam a sacola e tiraram o que havia para comer. Caixa de marmelada e alguma fruta.Naquele preciso momento, o coração caiu-lhes aos pés. Perceberam que para além disto, estava uma coisa escondida. É verdade, o monge cartuxo muito discretamente escondera na sacola algum dinheiro, caso viessem a sentir dificuldades.A história deste monge de clausura que insiste em ver as necessidades dos outros. A ver sem ser visto. A gratuidade de uma presença discreta, mas não apagada.A clausura não nos fecha, mas abre-nos com maior generosidade a quem dela se aproxima.
Nuno Branco